Quando nasceu sua filha mais velha, Camila, sua vida mudou radicalmente, mas foi só com a vinda de Gabriel, o caçula, que ela teve que se reinventar. O motivo? Ambos vieram ao mundo com autismo.
“Eles não encontram ali uma profissional, eles encontram uma mãe que passa pelas mesmas coisas.”
Simone Alli Chair está há 28 anos na militância pelo autismo e há pelo menos 15 anos ajuda outras mães de autistas com dicas e informações sobre esse transtorno. Um dia, uma dessas mulheres pediu para que a Simone fosse à escola do seu filho falar sobre o assunto. Ela foi, mas não conseguiu entrar, pois não representava nenhuma instituição.
Foi aí que há 4 anos, decidiu fundar com outras 4 amigas a Associação de Pais Inspirare, voltada para o autismo, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), pois seu filho Gabriel também nasceu com essa doença, e dislexia, já que uma das fundadoras tem um filho disléxico. Nesse tempo, a instituição já atendeu mais 300 mães.
Além de auxiliar em tratamentos e na parte educacional do autista, a associação acode as mães, conseguindo terapias para elas. Isso porque muitas delas passam por problemas com os maridos, que não aceitam e as culpam pelo filho ter nascido assim. O pior de tudo é que eles as deixam abandonadas e desamparadas até financeiramente.
Quem faz todo esse atendimento é a própria Simone, que acolhe e tenta ajudar essa mãe da melhor forma possível, fazendo uma lista de tudo o que ela precisa e dos profissionais necessários para essa assistência. A partir daí, começa a correr atrás de parceiros. Esta, inclusive, é uma grande dificuldade dela: achar parceiros. Por não encaminhar essas famílias à rede pública, só aos profissionais aos quais levaria os próprios filhos, essa busca fica um pouco mais complicada.
Outro desafio é achar escolas adequadas a essas crianças e fechar parcerias com elas, pois as existentes são muito caras e as famílias, extremamente carentes. Além disso, por lei, o autista tem direito a uma professora de apoio. Contudo, na prática é bem diferente.
Pouquíssimos são os autistas que possuem tal apoio, seja na rede pública ou na privada. É dessas dificuldades que vem o grande sonho dela: ter um espaço com uma equipe multidisciplinar capacitada, pois o autista não precisa de apenas um profissional, mas de vários: médico, fonoaudiólogos, terapeutas especializados, pedagogo, etc. Nesse sonho, esses trabalhadores seriam contratados pela Pais Inspirare para que a Simone não precisasse mais correr atrás de parceiros.
O atendimento permaneceria gratuito, sendo o ônus apenas da associação.
Impossível? Não. Pode ser difícil, mas para esta mulher, tudo é possível. Ela tem fibra, força e muita pré-disposição em ajudar o próximo. É isso que a faz lutar pelos sonhos e o que a torna uma mente diferente.